9 livros da minha estante escritos por mulheres que você precisa conhecer

Rafa Baião
10 min readNov 16, 2020

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Há alguns meses, circulou na internet uma provocação que buscava estimular uma reflexão entre as pessoas: se você tirasse todos os livros escritos por homens da sua prateleira, como ela ficaria? Infelizmente, muitas fotos de estantes vazias circularam pelo Instagram. O objetivo do movimento foi, claro, reforçar a questão da desigualdade de gênero, tema sobre o qual falei um pouco no último post publicado por aqui.

Eu não passei imune à brincadeira e resolvi fazer o teste. Fiquei feliz em perceber que minha estante de livros é bastante equilibrada e que, diferentemente de muitos cenários que vi por aí, ela não ficou vazia quando retirei os livros escritos por homens. Mais feliz ainda, na verdade, eu fiquei quando parei para pensar sobre o impacto que diversos livros escritos por mulheres tiveram na minha vida e o quanto as obras de autoria feminina estão no topo da minha lista de livros preferidos.

Foi diante desse cenário que resolvi fazer um post com nove livros da minha estante que foram escritos por mulheres e que, sem dúvida, representam mais de 80% dos livros que mais me impactaram nos últimos anos. Espero que goste!

A Menina Quebrada — Eliane Brum

A Menina Quebrada- Eliane Brum

Ninguém nunca vai me ouvir falar dos livros que eu mais gosto, sem falar de A Menina Quebrada. Desde que a conheci, eu me tornei uma fã convicta de Eliane Brum e esse livro, lançado em 2013 pela editora Arquipélago Editorial, passou a ter, desde então, lugar cativo na minha cabeceira.

Talvez esse não seja meu livro favorito atualmente, mas, na época da leitura, ele me impactou de uma forma tão intensa, que ele continua sendo o primeiro a vir a minha mente quando alguém faz aquela pergunta que perturba qualquer leitor voraz: qual o seu livro preferido?

A obra reúne crônicas publicadas pela jornalista na Revista Época e materializa a incrível capacidade de Eliane Brum de fazer um jornalismo de qualidade sem olhar para os lugares para os quais todos estão acostumados a olhar. Reflexões sobre morte, envelhecimento, política, aborto, consumo, religião e a ditadura da felicidade compõem o livro, que, em 432 páginas, nos faz repensar o nosso lugar no mundo.

Abordando temas espinhosos de forma séria e profunda, Eliane Brum, por meio de A Menina Quebrada, me garantiu uma nova visão da vida, a partir de uma sensação de desconforto necessária para lidar com situações que, apesar de corriqueiras, merecem mais do que o nosso olhar habitual e o nosso costume de, às vezes, nos deixarmos vencer pela normalização do absurdo.

Hibisco Roxo — Chimamanda Ngozi Adichie

Hibisco Roxo — Chimamanda

Não tem jeito de falar sobre livros escritos por mulheres sem falar de Chimamanda. Lançado em 2011 pela Companhia das Letras, Hibisco Roxo é o meu preferido da autora e mistura doses de ficção e autobiografia. Na obra, Kambili, protagonista e narradora, mostra como a religiosidade e o machismo do pai infernizam a vida de toda a família e como ela encontrou caminhos para subverter as premissas que suportaram sua criação.

O livro apresenta relatos de agressões físicas e psicológicas e parte da voz silenciada de Kambili para trazer à tona a reflexão sobre o quanto a criação de um pai ou uma mãe pode influenciar a forma que uma pessoa cresce e se mostra ao mundo. Mas, em contrapartida, a obra também mostra o quanto aprender a ouvir a nossa própria voz e encontrar caminhos para expressá-la no nosso dia a dia é importante para a nossa existência.

Hibisco Roxo traz ainda uma discussão cultural muito relevante, uma vez que, na obra, Chimamanda apresenta um retrato contundente e original da Nigéria atual, mostrando os remanescentes invasivos da colonização tanto no próprio país, como, certamente, também em todo o continente africano.

Enfim, trata-se de um romance fortíssimo e muito inquietante, capaz de despertar diversos sentimentos em quem lê. Não pense que você vai estar feliz quando chegar à última página!

Faça Acontecer — Sheryl Sandberg

Faça Acontecer — Sheryl Sandberg

Nem só de crônicas e ficção vive essa lista. Faça Acontecer é uma obra voltada para o mundo corporativo, com valiosíssimos ensinamentos sobre carreira, liderança e, principalmente, sobre o papel da mulher no mercado de trabalho. O livro chegou ao Brasil em 2013, pelas mãos da Companhia das Letras, e é de autoria de Sheryl Sandberg, braço direito de Mark Zuckerberg no Facebook e uma das dez mulheres mais influentes do mundo segundo a Forbes.

Na obra, Sheryl investiga as razões de o crescimento das mulheres na carreira estar há tantos anos estagnado, identificando a raiz do problema e oferecendo soluções práticas e sensatas para que elas atinjam todo o seu potencial. A autora encoraja as mulheres a sonharem alto, assumirem riscos e se lançarem, sem medo, em busca de seus objetivos.

A executiva faz uma autorreflexão sincera sobre os acertos e os erros de sua carreira, que, unidos a uma vasta pesquisa, resultaram neste livro escrito com humor e sabedoria. Faça Acontecer é um manifesto feminino para homens e mulheres, fundamental para se pensar os impasses e as questões de gênero no mundo do trabalho. A edição brasileira inclui dados específicos da situação das mulheres no nosso país e conta com um prefácio da empresária Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza.

Ou seja, são muitas reflexões que nos fazem ter certeza que ainda temos um longo caminho a ser percorrido e que cada um de nós tem um papel fundamental nesse processo. Para mim, Faça Acontecer foi um soco no estômago e, inevitavelmente, me fez relembrar e repensar muitas situações vividas ao longo da minha carreira.

Grande Magia — Elizabeth Gilbert

Grande Magia — Elizabeth Gilbert

Apesar de Comer, Rezar e Amar ser sua obra mais famosa, a americana Elizabeth Gilbert entra nessa lista com Grande Magia, lançado no Brasil em 2015 pela editora Objetiva. Ao compartilhar histórias da própria vida, de amigos e das pessoas que sempre a inspiraram, a autora reflete sobre o significado de vida criativa e derruba alguns mitos sobre a criatividade.

Segundo Gilbert, ser criativo não é apenas se dedicar profissional ou exclusivamente às artes, mas sim, sobretudo, viver uma vida sem medo e motivada pela curiosidade. A partir de uma perspectiva única, Grande Magia nos mostra como abraçar essa curiosidade e nos entregar àquilo que mais amamos.

Na obra, Elizabeth Gilbert faz uso de muita empatia e generosidade para oferecer aos leitores valiosos insights sobre a natureza da inspiração. Para os produtores de conteúdo, como eu, a leitura é ainda mais válida, porque a autora explora bastante à criatividade vinculada à escrita e derruba alguns mitos que podem nos paralisar diante de uma folha em branco ou nos impedir de tirar grandes ideias da cabeça.

O Sol é para Todos — Harper Lee

O sol é para todos — Harper Lee

Essa lista não poderia deixar de ter um clássico e o escolhido da vez é O Sol é para Todos, lançado pela primeira vez em 1960, fortemente premiado ao longo das últimas décadas e consolidado como um dos maiores clássicos da literatura mundial — que, inclusive, virou filme.

Nesta emocionante história ambientada no Sul dos Estados Unidos da década de 1930, região envenenada pela violência do preconceito racial, Harper Lee nos apresenta um mundo de grande beleza e ferozes desigualdades através dos olhos de uma menina de inteligência viva e questionadora, enquanto seu pai, um advogado local, arrisca tudo para defender um homem negro injustamente acusado de cometer um terrível crime — um estupro contra uma mulher branca.

O Sol é para Todos é uma história sobre raça e classe, inocência e justiça, hipocrisia e heroísmo, tradição e transformação. É um livro pesado e instigante que causa sentimentos perturbadores, como revolta e repulsa e, ao mesmo tempo, uma leitura necessária para que a gente possa ter certeza que, por mais que já tenhamos avançado muito em relação à desigualdade racial, ainda há um longo caminho a ser percorrido — as semelhanças entre os acontecidos da relatada história em 1930 e cenários com os quais a gente lida hoje deixa isso bastante escancarado.

Como se Encontrar na Escrita — Ana Holanda

Como se encontrar na escrita — Ana Holanda

Aqui está mais um livro que jamais ficaria de fora de uma lista dos meus livros preferidos. Quem já me viu falar qualquer coisa sobre escrita sabe que Ana Holanda é, hoje, minha principal referência e fonte de inspiração. E Como se Encontrar na Escrita é, sem dúvida, um dos livros que mais transformaram a minha vida.

Neste livro, lançado em 2018 pela editora Bicicleta Amarela, Ana Holanda nos conduz em uma linda jornada sobre a descoberta da Escrita Afetuosa, mostrando que a escrita é para todos e que qualquer pessoa, independentemente das suas habilidades com as palavras, é capaz de produzir um texto que toque o outro.

Longe de querer ditar regras ou se basear em truques e técnicas, o objetivo da autora com o livro é ajudar cada um a encontrar a própria voz, identificar a melhor forma de colocá-la no papel e, por fim, perder o medo de compartilhar o resultado. O livro fala sobre histórias, sobre pessoas e sobre a vida. Fala sobre nós e nos faz repensar como estamos lidando com a forma que enxergamos as coisas ao nosso redor.

Para Francisco — Cris Guerra

Para Francisco — Cris Guerra

Esse é, certamente, o livro de menor projeção dessa lista, mas, na minha vida, carrega uma importância tão grande ou maior do que outros que aqui estão. Lançado, pela primeira vez, em 2008 pela editora ARX, Para Francisco é de autoria da publicitária mineira Cris Guerra, que encontrou nas palavras uma forma de promover o encontro entre seu filho recém-nascido e o pai da criança, que morreu, repentinamente, dois meses antes de Francisco vir ao mundo.

Inicialmente concebido como um blog, Para Francisco foi a forma que a autora encontrou para lidar com a sua perda e contar ao filho sobre seu falecido pai. De maneira poética e comovente, Cris discorre sobre a vida e sua rotina como viúva e mãe, trazendo fotos de família e e-mails trocados com o pai de seu filho, ao mesmo tempo em que aborda temas como saudade, luto, força e superação.

A história de Cris Guerra é profundamente inspiradora e este é um livro que mostra aos leitores como o amor tem forte poder de cura e capacidade de nos ajudar até nos momentos mais difíceis. Para mim, o livro foi tão impactante que, até hoje, mesmo depois de já tê-lo lido integralmente três vezes, eu me pego folheando as 240 páginas e revivendo, junto com a Cris, todos os sentimentos que a abraçaram no momento mais importante da vida.

Para Francisco é, pra mim, a materialização de uma crença que carrego desde sempre: a palavra é ponte que promove encontros entre as pessoas!

Coragem de Ser Imperfeito — Brené Brown

A coragem de ser imperfeito — Brené Brown

Assim como Eliane Brum e Ana Holanda, Brené Brown jamais ficaria de fora de uma lista de livros elaborada por mim. Eu sou uma grande embaixadora de A Coragem de Ser Imperfeito — inclusive, já falei sobre ele nesse post aqui — e indico a leitura para todo mundo com quem eu tenha a oportunidade de conversar mais do que alguns minutos.

Essa obra-prima chegou ao Brasil em 2016, pela editora Sextante, e nela a autora fala sobre a vulnerabilidade e a importância de sabermos lidar com ela para nos livrarmos das amarras que nos impedem de ser quem somos. Há muito tempo um livro não me impactava tanto como A Coragem de Ser Imperfeito.

Não saber reconhecer ou entender como lidar com as vulnerabilidades é, sem dúvida, um dos grandes desafios das relações humanas e é por isso que aprender mais sobre o tema é tão importante para a nossa existência neste mundo. Brené Brown trata com maestria sobre a conexão entre pessoas que, assim como pra ela, pra mim é a nossa razão de existir.

A Coragem de Ser Imperfeito, entre tantas coisas que representou na minha vida, foi um empurrão importantíssimo para que eu começasse a publicar meus textos aqui e em outras plataformas. A importância foi tão grande que eu, inclusive, acabo de ler a obra pela segunda vez — e valeu tão ou mais a pena do que a primeira.

Mulheres que Correm com os Lobos — Clarissa Pinkola Estés

Mulheres que correm com os lobos — Clarissa Piskola

Serei obrigada a cometer um erro primário e colocar em uma lista de indicações um livro que ainda não li. Isso porque, pelo que já ouvi falar e pelo que li a respeito, seria insano da minha parte não inserir Mulheres que Correm com os Lobos em uma lista de grandes obras escritas por mulheres.

Uma nova versão do livro, lançado originalmente há quase três décadas, foi lançada no Brasil em 2018 pela editora Rocco — em uma linda versão de capa dura. Para se ter uma ideia da importância da obra, Mulheres que Correm com os Lobos permaneceu mais de 145 semanas na lista dos mais vendidos do The New York Times e já foi publicada em 42 idiomas.

Abordando 19 mitos, lendas e contos de fada, como a história do patinho feio e do Barba-Azul, a autora mostra como a natureza instintiva da mulher foi sendo domesticada ao longo dos tempos, num processo que punia todas aquelas que se rebelavam. Ou seja, um livro mais do que necessário para os dias atuais.

A minha lista termina por aqui, mas devo dizer que, sem precisar de esforço, consigo pensar em, pelo menos, mais três ou quatro que poderiam estar aqui. De fato, tenho muito orgulho de rechear minha estante com tantas mulheres incríveis e inspiradoras e sou muito feliz por ter sido e continuar sendo fortemente impactada por cada uma delas.

E você? Tem alguma obra escrita por uma mulher que você acha que não deveria estar fora dessa lista? Compartilha comigo! A minha lista preferida, na verdade, é a de livros que ainda não li e vou adorar inserir sua indicação nela.

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Rafa Baião

Jornalista de formação, acredito que a comunicação, muito mais do que prospectar clientes e fortalecer uma marca, tem poder de transformar a vida das pessoas.